O conflito comercial entre os Estados Unidos e potências como China e Europa vem se intensificando em 2025, com Donald Trump, em pré-campanha ativa, liderando uma política econômica fortemente protecionista. A imposição de tarifas sobre carros elétricos europeus e asiáticos, semicondutores, baterias e até produtos agrícolas estrangeiros não é apenas uma retaliação comercial — trata-se de uma tentativa direta de reconstrução industrial e reafirmação da soberania econômica americana. Trump entende que os EUA perderam controle estratégico ao depender da China e de outras nações para insumos críticos, e busca, com essas medidas, reverter décadas de globalização que favoreceram a Ásia e a Europa.
Esse movimento, no entanto, tem implicações muito além da economia. Ele representa um esforço deliberado de “relocalização da cadeia produtiva”, especialmente em setores sensíveis como tecnologia, energia e defesa, em um contexto global de aumento da tensão geopolítica. A taxação não é meramente econômica: é política, estratégica e, de certa forma, bélica. A China, por sua vez, já responde com barreiras não tarifárias, estímulos internos e expansão das parcerias com países em desenvolvimento, enquanto a Europa recua, temerosa de uma fragmentação ainda maior do sistema multilateral de comércio.
O cenário que se desenha é um mundo com blocos econômicos mais fechados, com menor interdependência e maior risco de conflito. Países como Brasil, Índia e Indonésia tornam-se campos de disputa de influência, e commodities estratégicas como alimentos, petróleo, metais raros e dados tornam-se armas silenciosas. Ao mesmo tempo, a corrida por infraestrutura digital (data centers, IA, chips) ganha uma dimensão geopolítica: quem controla o processamento e armazenamento da informação, controla a nova economia.
No mercado, isso representa uma mudança estrutural. Ativos vinculados à industrialização local, tecnologia crítica, commodities estratégicas e moedas descentralizadas (como o Bitcoin) ganham relevância. Já ativos dependentes de cadeias globais frágeis ou de exportações para grandes blocos (como Europa e China) ficam mais expostos. O risco de conflitos comerciais evoluir para confrontos cibernéticos ou até militares, especialmente no Pacífico Sul, permanece baixo no curto prazo, mas não é desprezível no médio prazo.
Trump, ao taxar o mundo, tenta devolver aos EUA o status de potência industrial e autossuficiente — mas acelera a fragmentação de um sistema global já sob estresse por guerras, clima e inteligência artificial. O mundo caminha, silenciosamente, para um novo paradigma: menos global, mais competitivo, mais inseguro — e, para investidores atentos, cheio de assimetrias e oportunidades.